sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Conhecendo o velho pai


Filho, acorda! Sâo oito horas! Você vai se atrasar!
De um salto, o rapaz se levantou. Contudo, logo se deu conta que era seu primeiro dia de férias.
Atrasar para quê, mãe?
Para pescar com seu pai.
O jovem perdeu todo o entusiasmo. Sim, ele prometera, quando estivesse em férias, pescar com seu pai. Mas, tinha que ser logo no primeiro dia de férias?
Enfim, ele foi, mesmo a contragosto.
Sentado ao lado do pai, que dirigia, cantando, ele pensava em como seu pai estava ficando velho e meio lelé.
Ficava cantando músicas antigas, ria, conversava e conversava.
Finalmente, chegaram. Quer dizer, o carro estacionou, mas o pai disse que ali não era local apropriado para pesca. Só dava peixe pequeno.
Andaram durante duas horas, no meio de mata densa, até chegar ao "pesqueiro secreto do pai".
Claro que é secreto, falou o rapaz, incomodado. Ninguém, a não ser você vem aqui. Nem os peixes.
Isso é o que você pensa! - falou o pai. Aqui é que se reúnem as maiores tilápias da represa.
E, disposto, colocou botas altas, calças impermeáveis e entrou na água para cortar o mato que tomava conta quase total do lago.
Tudo aquilo estava parecendo muito doido ao filho. Que graça podia ter tudo aquilo?
Quando o pai preparou a vara e jogou o anzol, ele não agüentou e falou:
Pai, estou preocupado com você.
Essa maluquice de vir até este fim de mundo para pescar tilápias. E a mamãe falou que você nunca volta com peixe.
Já pensou em procurar um psicólogo?
Estou ótimo, falou o pai. O Freitas, que vem sempre aqui comigo, é psicólogo. O Tavares é psiquiatra.
Nesse momento, ele sentiu a fisgada no anzol, puxou a linha e lá estava ela: uma grande tilápia.
O rapaz estava surpreso.
Pai, você já pescou peixe grande assim, antes?
Sempre, meu filho.
Mas eu nunca vi você levar para casa nenhum.
Eu vou mostrar por que, falou o pai.
E fotografou o filho segurando o peixe. Depois, pegou a tilápia e a devolveu à água.
Eu pesco por prazer, não para encher a barriga.
Aquilo sim era legal, pensou o filho. O resto do dia, passou pescando com o pai. E devolvendo às águas o que pescava, depois de fotografar.
Vá procurar o seu irmão, dizia, soltando o peixe.
Ao final do dia, no retorno ao lar, confessou que fazia tempo que não se divertia tanto. Aquilo sim, "era radical".
À noite, enquanto se preparava para dormir, pensou que seu pai não tinha nada de louco ou de desequilibrado.
Seu pai sabia viver. Seu pai era um gênio. E ele descobrira naquele dia.

Pensamento

Você já se dispôs a passar um dia inteiro ao lado de seu velho pai, bebendo da sua sabedoria?
Já tentou puxar conversa dos tempos em que ele passava brilhantina no cabelo para ir namorar sua mãe?
Você já pensou que seu pai também foi moleque, adolescente, rapaz? Que teve sonhos?
Olhe seu velho com esses olhos de quem valoriza a experiência, os anos da madureza, as lutas que lhe nevaram os cabelos.
E, sem receio, abrace seu velho, agradeça por todos os dias de alegria que ele lhe proporcionou.
Faça isso. Mesmo que seja pela primeira vez. Hoje, enquanto é tempo e ele está ao seu lado.

Texto da Redação do Momento Espírita com base na história Meu pai... o rei do peixe, de Maurício de Sousa, da Revista Cebolinha, nº. 224
www.reflexao.com.br

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O antigo hábito do duelo


O duelo figura na História da Humanidade como uma prática violenta e injusta.
Por muito tempo, as legislações admitiram esse genuíno resquício da barbárie.
Ele consistia na exaltação do mais desmedido e descontrolado orgulho, embora travestido de honra.
Sua lógica era a de que a honra se lavava com sangue.
Entretanto, o homem verdadeiramente honrado não precisa matar ninguém, a fim de atestar essa sua qualidade.
A honra é um atributo espiritual de quem cumpre todos os seus deveres, inclusive os de humanidade.
E é desumano matar alguém, por mais grave que seja a ofensa recebida.
Quando se admitia o duelo, era considerado prova de coragem dele participar.
Na verdade, tinha-se apenas exibicionismo social e arrogância, sem qualquer preocupação ética.
O duelista treinado não passava de um homicida.
Ele se lançava na empreitada ciente de sua supremacia.
Já o que aceitava o desafio sabendo-se em desvantagem cometia suicídio.
Ambos violavam os Códigos Divinos.
Teriam tempo de se arrepender do orgulho a que se entregavam.
Essa prática infeliz deixava viúvas e órfãos, por cujas dores e provações os duelistas no futuro responderiam.
Lentamente a legislação humana evoluiu.
Hoje não mais se admite o duelo.
Entende-se que a honra não se conquista ou se mantém à custa de homicídios ou suicídios.
Mas a criatura humana é sempre herdeira de suas más inclinações.
Antigos hábitos do passado espiritual não desaparecem com facilidade.
Orgulho, arrogância, prepotência, egoísmo, ódio e ressentimento são vícios que ainda pesam fundo na economia moral da Humanidade.
Esses sentimentos cruéis são a herança do que se viveu no pretérito remoto.
Superá-los é o dever de todo homem comprometido com ideais de paz e redenção.
Como visto, hoje não há mais duelos de vida e morte.
Mas as criaturas permanecem se digladiando por bobagens.
Embora não armados, tais confrontos permanecem bastante nocivos.
Eles tiram a paz e semeiam tragédias.
No lar, no ambiente de trabalho, no meio social, os indivíduos se melindram, com grande facilidade.
Ao invés de conversarem e acertarem as diferenças, cultivam mágoas e ódios, à semelhança de tesouros.
Tão nefasto cultivo um dia explode na forma de violentas discussões.
Na falta de coragem para enfrentar o presumido opositor, não são raros os que lançam mão da maledicência.
Tornam a vida do desafeto um inferno, ao espalhar em torno de seus passos as sementes da desconfiança.
Onde ele antes via sorrisos e simpatia, passa a confrontar má-vontade e cara feia.
Há ainda quem duele mentalmente, desejando o mal àquele que supostamente o ofendeu.
Os pensamentos negativos por vezes atingem o destinatário, se este vibra em faixa equivocada e também se entrega a remoques.
Mas sempre empestam a atmosfera espiritual de quem os emite e geram mal-estar e enfermidades.
Ciente dessa realidade, preste atenção a como você reage a provocações e desentendimentos.
Saiba que há mais coragem e sabedoria em relevar do que em revidar as ofensas.

Cesse com o triste hábito de duelar e ofender e passe a perdoar e compreender.
Uma vida honrada é a melhor resposta a provocações.

Pense nisso.


Redação do Momento Espírita, com base no cap. XVII, do livro Jesus e vida, pelo Espírito Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.